Conselho Superior (CS)
Discurso de José Goldemberg, presidente da FAPESP, em cerimônia de assinatura de acordo com BNDES
Sr. Governador, Sr. Presidente do BNDES
O convenio que vamos assinar hoje entre a FAPESP e o BNDES é importante porque nos ajuda a entender o processo pelo qual a pesquisa científica e tecnológica origina empresas e desenvolvimento econômico.
Desde sua criação em 1962 a FAPESP apoia a pesquisa científica em todas as áreas e capacita os professores das universidades e os pesquisadores dos institutos de pesquisa a participar de avanços mais recentes da ciência e da tecnologia.
Isto é de fundamental importância pelas seguintes razões:
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Em primeiro lugar porque a ciência nos permite entender o que acontece em torno de nós e nosso papel no mundo independentemente de sua eventual utilidade pratica. É por isso que nossos pesquisadores participam de pesquisas de vanguarda no Exterior em todas as áreas desde ondas gravitacionais até programação genética e ciências sociais.
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Em segundo lugar porque muitas destas descobertas têm consequências práticas importantes para o desenvolvimento econômico e o progresso social.
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Em terceiro lugar se as tecnologias são desenvolvidas no país ou mesmo se forem importadas é essencial dispor de técnicos e cientistas que assessorem Governo e empreendedores a escolher as mais adequadas ao país.
Só para dar um exemplo Faraday um cientista inglês descobriu em 1831 que eletricidade e magnetismo estavam ligados intimamente. Perguntado sobre a utilidade de sua pesquisa Faraday respondeu que não sabia responder. Em 1866 Siemens começou a produzir geradores de eletricidade. Em 1883 foi instalada a 1ª usina hidroelétrica no Brasil perto de Juiz de Fora e em 1895 a usina de Corumbataí em Rio Claro que funcionou até 1970. Muitas vezes a transição é muito mais rápida como aconteceu com os transistores.
Um outro exemplo é da importação de siderúrgicas: a primeira delas a de Volta Redonda usava tecnologias obsoletas e poluentes, mas as seguintes foram modernas importadas do Japão
A FAPESP apoia as duas atividades: a pesquisa acadêmica e a pesquisa tecnológica e inovação sem preconceitos, como aliás determina a Constituição do Estado de São Paulo.
Entre os programas da FAPESP que fazem a transição da pesquisa acadêmica para aplicações práticas temos o PIPE (Programa de Inovação de Pesquisa Empresas) que apoia “startups”.
Em 2017, o programa completa 20 anos de existência com mais de mil e cem empresas apoiadas. Apenas no ano passado foram 220 empresas com recursos a fundo perdido em duas formas: na 1ª fase recursos até R$ 200 mil e na 2ª fase para as mais promissoras R$ 1 milhão.
Há casos extraordinários de sucesso: empresas que desenvolveram inovações no controle biológico de pragas, inseminação artificial, balões (aeróstatos) para monitoramento e radiocomunicações, equipamentos médicos, automação industrial, internet das coisas e outras inovações.
A fase seguinte é o que se chama do “vale da morte” porque muitas “startups” não conseguem levantar capital para passar a produzir em escala industrial. Este é um problema das “startups” no mundo todo sobretudo onde existe pouco capital de risco.
É aqui que o BNDES vai entrar. O Banco pode “pescar” no nosso grande aquário de pequenas empresas inovativas cujos processos tecnológicos já foram testados e aprovados pela FAPESP beneficiando-se da nossa análise na sua apreciação dos projetos.
O BNDES pode ofertar credito para estas empresas, ou aportes de capital, além de outros mecanismos.
O BNDES será também nosso parceiro na chamada que recém fizemos para empresas ou consórcios de empresas interessadas no tema Manufatura Avançada que vai transformar de forma radical todos o sistema produtivo.
Além disso pretendemos ampliar com o apoio do Banco o apoio de Centros de Pesquisa em Engenharia em parceria com grandes empresas das quais já temos 5 nos laboratórios de nossas universidades na área de fármacos, motores de etanol e gás. Vamos colaborar também com ele na área de formulação de políticas públicas.
E finalmente nossa parceria com o BNDES vai fortalecer nossos laços com a Desenvolve São Paulo, que opera muitos dos instrumentos do BNDES em São Paulo.
Discurso proferido no Palácio dos Bandeirantes em 3 de outubro de 2017.