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Flora do Brasil na internet
Agência FAPESP - Em 1817, o médico e botânico alemão Carl Friedrich Philipp von Martius (1794-1868) chegou ao Brasil com a Missão Austríaca, formada por cientistas e artistas europeus interessados na rica e exuberante flora tropical. Em três anos, percorreu 10 mil quilômetros. Depois, voltou à Alemanha.
A viagem exploratória marcou o cientista de tal forma que, nos anos seguintes, passou a se dedicar extensivamente ao estudo da flora brasileira. A partir de 1840, iniciou o trabalho de organização das informações e de publicação de sua obra de maior fôlego, intitulada Flora Brasiliensis.
Ainda hoje, esse é o mais completo e abrangente levantamento da flora nacional. Ali estão descritas 22.767 espécies, que representam o conjunto das plantas conhecidas até meados do século 19. Na obra também estão 3.811 desenhos de plantas, flores, frutos e sementes. E, embora atualmente se estime que a diversidade de plantas por aqui possa chegar a 50 mil espécies, a Flora Brasiliensis continua referência indispensável para os biólogos.
Exatos cem anos após a publicação do último volume da obra, ela se torna mais acessível aos cientistas e ao público em geral por meio da internet, como resultado do projeto Flora Brasiliensis On-Line, financiado pela FAPESP, Natura Cosméticos e Vitae Apoio à Cultura, Educação e Promoção Social.
Com parte do conteúdo da monumental obra de von Martius, o Flora Brasiliensis On-Line será lançado oficialmente no dia 22 de março, durante a Oitava Reunião da Conferência das Partes da Convenção sobre Diversidade Biológica (COP 8), de 20 a 31 de março, em Curitiba. O endereço será http://florabrasiliensis.cria.org.br. Na quarta-feira (8/3), o site foi apresentado em coletiva de imprensa na sede da FAPESP, em São Paulo.
“A importância da Flora Brasiliensis pode ser medida pelo reconhecimento histórico e internacional. Os milhares de gêneros e espécies botânicos, agora em meio eletrônico, permitirão acesso amplo de estudiosos, interessados e da sociedade em geral à riqueza científica e cultural da obra máxima de von Martius”, diz Carlos Vogt, presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP).
Dados botânicos
A digitalização das imagens para o site foi feita pelo Jardim Botânico de Missouri, nos Estados Unidos. Em alta resolução e com grande riqueza de detalhes, os desenhos poderão ser consultados pelo nome científico de cada espécie, pelo volume ou pela página da obra impressa.
O desenvolvimento e gerenciamento do grande banco de dados reunido pelo Flora Brasiliensis On-Line está sob a responsabilidade do Centro de Referência em Informação Ambiental (Cria). Um banco de imagens de plantas vivas no campo e de amostras existentes em herbários, associadas às imagens das pranchas digitalizadas, está em andamento.
Outra etapa prevista pelo projeto é o desenvolvimento de um catálogo atualizado com os nomes das espécies brasileiras. Por enquanto, um estudo piloto está sendo feito para a atualização da nomenclatura de um número limitado de famílias, coordenado pelo botânico George Shepherd, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
“Os taxonomistas, que descrevem e classificam organismos, dependem de obras históricas, restritas a bibliotecas e herbários no exterior. O site faz parte de um trabalho de integração de dados de muitos países, num esforço para renovar a taxonomia, derrubando barreiras que impedem o desenvolvimento da área”, afirma Shepherd.
“O Flora Brasiliensis On-Line é o primeiro passo de um longo processo para elaborar uma lista atualizada e completa das plantas que existem no Brasil”, diz o biólogo. Segundo Shepherd, apenas o trabalho de atualização das nomenclaturas contidas na obra de von Martius levará cerca de cinco anos.
“O projeto conecta um dos maiores trabalhos sobre biodiversidade jamais produzidos com um dos principais programas mundiais de pesquisa em biodiversidade – o Biota/FAPESP – , ao mesmo tempo em que oferece ao público os resultados da obra original”, diz Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da FAPESP.
Na opinião de Vanderlei Canhos, diretor-presidente do Cria, o trabalho de von Martius foi um exemplo de cooperação internacional no século 19. “No século 21, o Flora Brasiliensis On-Line retoma e atualiza esse tipo de colaboração, em alto nível e larga escala, usando tecnologias de compartilhamento de dados”, afirma.
Para Canhos, os avanços em informática permitiram a montagem não apenas de um site, mas de um ambiente colaborativo que será usado por pesquisadores de diversos países para avançar no conhecimento da diversidade vegetal brasileira.
Shepherd concorda e afirma que o projeto não é importante apenas para que o Brasil conheça melhor a sua biodiversidade, mas para que os países vizinhos façam o mesmo. “Plantas não conhecem fronteiras”, diz o pesquisador.
Flora Brasiliensis On-line: a partir de 22/3 no endereço http://florabrasiliensis.cria.org.br.