BIOEN-FAPESP
Abordagem do “Farol Alto” English version
Nós nunca alcançaremos um futuro sustentável e seguro extrapolando as tecnologias e ações que nos levaram a um presente insustentável e inseguro. Logo a viabilidade da produção em larga escala de bioenergia é mais informativamente abordada sob uma “perspectiva do farol alto” considerando o mundo como ele deveria ser do que sob uma “perspectiva do farol baixo” do mundo como ele é.
A dramática diferença entre as perspectivas do farol alto e do farol baixo sobre a viabilidade da produção de larga escala de bioenergia é ilustrada pela análise apresentada na Figura 1, desenvolvida como parte do projeto “O Papel da Biomassa no Futuro da Energia nos Estados Unidos” (RBAEF) . Com considerações da situação atual, o requerimento de novas terras para fornecer todas as necessidades por mobilidade dos Estados Unidos é cerca de 1 bilhão de acres, o que representa cerca de metade da área dos 48 estados mais baixos.
A tecnologia de conversão madura como projetada baseando-se em análise detalhada pelo projeto RBAEF reduz a quantidade de novas terras para 410 milhões de acres. Uma redução duas vezes e meia ainda maior é possível através de futuras tecnologias devido ao aumento da eficiência dos veículos (milhas por galão) e aumento da produtividade da produção de biomassa celulósica (toneladas por acre por ano), reduzindo a necessidade por novas terras para 65 milhões de acres.
Reduções ainda maiores são possíveis integrando a produção de matéria-prima nos usos da terra existentes, o que poderia ser, e muito provavelmente seria, praticado em uma extensão muito maior do que agora em resposta à demanda emergente por biomassa celulósica sem fins nutritivos. Uma estratégia entre várias para tal integração é cultivar grama de corte rápido ou alfafa ao invés de soja, resultando em uma produção conjunta de proteína para consumo animal e matéria-prima para produção de biocombustível celulósico. A quantidade de matéria-prima co-produzida é potencialmente grande o suficiente para reduzir a zero a necessidade por novas terras.
A conclusão de que é possível – ao menos nos Estados Unidos – para os biocombustíveis fazerem uma grande contribuição para a mobilidade com pouca ou nenhuma necessidade de novas terras torna-se ainda mais robusta pela disponibilidade de múltiplas opções de integração de produção de matéria-prima para biocombustível nos usos da terra existentes sem deslocar a produção de alimentos. Tais estratégias incluem culturas de sucessão, colheita sustentável de resíduos agrícolas e biomassa florestal, aumento da produção de terras subutilizadas (particularmente terras de pastagem) e eficiência da terra para produção de ração animal. Alcançar uma grande contribuição à mobilidade com pouca ou nenhuma necessidade por novas terras envolve múltiplas, grandes, complementares e atualmente improváveis mudanças. O mesmo pode ser dito da maioria das trajetórias, senão todas, para um mundo sustentável.
Figura 1. Novas terras necessárias para a mobilidade atual dos Estados Unidos com considerações de aumentos da produtividade do processamento, da eficiência dos veículos, da produtividade da biomassa e integração agrícola. O cenário I da integração agrícola envolve a co-produção de proteína para ração animal e matéria-prima para biocombustível a partir de gramíneas perenes de corte rápido ao invés de soja como descrito por Dale et al., 2009. Os outros cenários de integração agrícola incluem, mas não se limitam a, culturas de sucessão, uso de alguns resíduos agrícolas (como palha de milho e trigo etc), aumento da produção em terras subutilizadas, eficiência da terra para produção de ração animal e mudanças de comportamento alimentar.
No final de um capítulo detalhado sobre a questão da disponibilidade de terras, incluindo a revisão e análise das diversas e díspares conclusões obtidas por diferentes estudos, Lynd et al. (2007) comentam: Ultimamente, as questões relacionadas com a disponibilidade de terras para produção de energia e a viabilidade do fornecimento em larga escala de serviços energéticos são determinadas tanto pela visão mundial como por duras restrições físicas... A um nível considerável, as conclusões completamente diferentes obtidas por diferentes analistas sobre a questão do suprimento de biomassa refletem diferentes expectativas a respeito da vontade ou capacidade do mundo de inovar e mudar.
A análise do farol alto, focada no potencial de longo prazo e incluindo tecnologias de conversão maduras e múltiplas mudanças complementares que acomodam o uso em larga escala dos biocombustíveis, ainda não foi feita em uma escala global. E ainda é crescentemente claro que esta análise é seriamente necessária. O testemunho da necessidade de uma análise em escala mundial é dado pela preocupação com as emissões de carbono decorrentes do desmatamento de terra em um país em resposta ao uso de terras de cultivo de culturas para produção de biocombustível em outro país e ainda pelo impacto das mudanças de comportamento alimentar no terceiro mundo na disponibilidade de terra para produção de biocombustível. Em vista dessas e outras questões, uma análise em uma escala menor do que a global não lida adequadamente com a questão da viabilidade da bioenergia em larga escala.
Tal análise global da bioenergia incluiria uma gama de cenários futuros potenciais e podem bem resultar em alguns cenários com grande contribuição da bioenergia ao mesmo tempo em que garante as necessidades por alimentação e honra outras prioridades importantes. Se isso fosse mostrado, isto forneceria uma orientação criticamente importante com respeito à viabilidade de um futuro intensivo em bioenergia e às trajetórias de política e uso da terra que promovam esse resultado.
Referências
- Dale, BE, MS Allen, M Laser, LR Lynd, 2009. Protein feeds coproduction in biomass conversion to fuels and chemicals. Biofuels, Bioproducts, & Biorefining, 3:219-230.
- Lynd LR, M Laser, J McBride, K Podkaminer, J Hannon, 2007. Energy myth three - High land requirements and an unfavorable energy balance preclude biomass ethanol from playing a large role in providing energy services. pp 75 to 101 In: B. Sovacool and M. Brown (eds) Energy and Society: Thirteen Myths About the Environment, Electricity, Efficiency, and Energy Policy in the United States. Springer.